Páginas dos contos

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Incidentes que não quero lembrar

Rindo sem me aguentar, vejo minha querida amiga fechando a cara pra mim. Completa e totalmente emburrada. Vendo que eu continuava rindo, agora mais dela do que da situação, Bella se irrita e vem pra cima de mim.

-Desembucha logo, palhaça! 

Levei uns três tapas nos braços, e tentei inutilmente me esquivar dos outros que estavam vindo. Mais dois tapas e consegui segurar suas mãos. Sorrindo maliciosamente, pergunto vitoriosa.
-E agora, não pode mais me bater, vai fazer o que para eu falar?

Bella franze o cenho, tenta se libertar, mas como eu sou mais forte não permito. Ela percebe que está sem opção e com um suspiro cansado, ela faz beicinho ao abaixar a cabeça. Sinal de desistencia! Ponto pra mim! 

Acho-a uma graça mas nada comento, não quero provocá-la mais do que já havia feito... Era o seu limite e sua expressão já tão conhecida me mostrava isso. 

Sorri pra ela e delicadamente ergui seu queixo, fazendo-a me olhar. 

Vendo-a daquele jeito eu pisco pra ela e me aproximo. Ela se assusta um pouco e recua. Boba! O que será que ela pensou que eu iria fazer? Nem dou chances dela se afastar novamente e lasco um beijo estalado em sua bochecha, chamando-a de fofa.

Não esperando essa reação minha, vejo-a corar involuntariamente. Sorrio pra ela e coloco a mão na boca tentando engolir a vontade imensa que eu estava de rir. É horrivel quando temos que nos controlar para não rir, mas não queria irritá-la. 

Ela percebeu que eu estava segurando o riso e mesmo eu não rindo, ela bufou irritada, virando o rosto.

-Se não quer falar, então não fala. Mas eu realmente não entendo o que aconteceu de tão secreto assim, pra você não poder me contar. - Bella exclama irritada.

Rio de leve, e a puxo para um abraço apertado. Ela tenta me afastar mas não consegue, pois a aperto mais em meus braços. Sorrio ao vê-la sussegar-se e sussurro em seu ouvido lentamente.

-Deixa de ser sensível. Era brincadeira, Bella. Eu te conto sim, menina. - fiz uma pequena pausa, respirei profundamente antes de soltar de uma vez - É que a Bia bebeu todas e acabou sendo suspensa da balada. Sara e Duda a levaram pra fora, e o resto junto comigo fomos tentar segurar a barra lá com o chefe da segurança. E não é que o cara era gatinho.

A liberto do meu abraço rindo novamente. 

Bella me olha com os olhos arregalados e diz com um risinho maroto no rosto.

-A Bia não tem jeito mesmo. E tenho quase certeza que você não está muito atrás dela não. Ela te encobriu lá, não foi?

"Como é que ela faz isso, cara??? Como...? Como ela sempre sabe o que eu não falo?" pensei surpresa. 

-Vejo que seu silencio fala volumes, minha querida. 

Envergonhada, abaixo minha cabeça, fugindo de seu olhar. 

Silencio.

Sinto sua aproximação e ela ergue minha face, fazendo eu finalmente encará-la. Tento fugir daquelas orbes esverdeadas, mas não sei como. Ela não me permiti.

-O que VOCÊ aprontou lá, mocinha?

Como uma criança com medo de contar o que fez de errado eu tentei enrolar dizendo a primeira coisa que veio na minha cabeça.

-Nada...

Com uma sobrancelha arqueada, Bella me olha sem acreditar no que eu digo.

-Vamos, pode contando...

Suspiro profundamente e resolvo contar.

-Encontrei o João...

Surpresa, Bella não esperava que eu dissesse isso... 

Vendo-a desse jeito, apenas digo, cabisbaixa.

-Pois é... ele estava lá com suas namoradas. Mas...

Numa rapidez surpreendente, Bella me agarrou pelos ombros olhando em meus olhos com fúria ao perguntar.

-O que ele fez? 

Silencio. Evito seu olhar.

-Vamos, Rachel. Me conte o que ele fez.

Novo suspiro. Eu realmente estava cansada de me sentir tão fragilizada, vulnerável com esse assunto... com esse garoto. 

-Ele jogou pra cima de mim que eu não prestava e era só mais uma das muitas vagabas com quem ele teve o desprazer de fuder. Me chamou de frigida e disse em voz alta que eu não prestava nem pra ser catadora de lixo. - falo lembrando de como aquilo tudo doeu em minha alma. Aquelas palavras severas tinham um efeito em mim que eu não queria que tivesse. Não conseguia simplesmente ignorar.

-Não... Não acredito que ele te disse isso tudo... Não... 

Bella estava bestificada com tudo o que ouvira. Não era pra menos. Após três anos de namoro, ele sempre me tratando bem e sendo um amigo acima de tudo... Até o dia em que eu o peguei me traindo, não com uma, nem duas, mas três biscates, das quais duas EU conhecia e considerava-as minhas amigas. Paciência, nem tudo é como queremos. Mas o pior disso tudo, foi que quando eu quis terminar ele não deixou. Não quis. Disse que minha opinião não importava, portanto a última palavra sempre seria dele, e quando ele quisesse ele terminaria o relacionamento, enquanto isso era pra eu simplesmente aceitar suas escapas e 'aliviadas' como ele definiu o ato de me trair. Não aguentei e juntei minhas coisas e sai da casa que um dia considerei ser um lar, um ninho de amor... amor verdadeiro... nem sei mais nada. Sai de lá acabada. Vim até a casa de Bella e fiquei por uns dias. No entanto João não quis deixar assim... Como ele mesmo tinha proferido ele não queria terminar o namoro então pra ele não tinha terminado nada. E foi ai que o pesadelo começou.... ele me perseguia, quando eu tentava lutar contra ele, por não querer beijá-lo, ele me socava, me derrubava sem dó nem piedade, além de me xingava. Chegava em casa me arrastando... Algo sempre me intrigou, o fato dele nunca encostar a mão em minha face. Desejei saber o porque, mas me arrependo de desejar isso. Pois nesse dia o pesadelo tomou um rumo perigoso...
Na saída da faculdade, Bella estava com o Rodrigo e eu com a Duda, conversávamos tranqüilamente, até que João apareceu do nada, me chamando. 
Todos me olhavam sem saber o que fazer. Não sabiam como eu reagiria. Bella queria partir pra cima dele, mas Rodrigo a segurou. Sorri aliviada pra ele agradecendo com um simples aceno. Ele retornou o sorriso como que dizendo que estava tudo bem. Eu voltei meu olhar para João e vi que ele estava com um semblante sério e até um pouco mais calmo que uns dias atrás. Deduzindo que ele estaria aqui só no intuito de conversar eu aceitei o seu pedido pra conversar à sós. Esse foi meu erro. Bella tentou me impedir, mas eu disse que estava tudo bem e que mais tarde ligaria pra ela dizendo que estava bem. Ela concordou a contragosto, me fazendo jurar que iria ligá-la. Jurei. Duda se despediu de mim, dizendo que ia procurar por Sara, eu concordei e perguntei em seu ouvido se ela podia me esperar e me dar carona pra casa, pois estava sem meu carro naquela noite. Ela sorriu e concordou. Agradeci dando um beijo em sua bochecha e dizendo até já. Assim que Duda saiu de perto, João me arrastou para um canto escuro, longe de qualquer lugar que pudesse ser visto. Não consegui me defender, só sei que ele tampou minha boca com força e sorrindo sinistramente, ele me disse.

-Como você é idiota, Rachel. Hoje você saberá o que é ser mulher. Chega de joguinhos, agora você será minha. Quem mandou dar uma de dificil pra cima de mim, sou homem Rachel. É óbvio que iria atrás de outras mulheres. Não quero ficar preso... Pra que ficar com uma se você pode ter dezenas? 
Eu não acreditava no que ouvia. Esse não era o João que um dia amei. Não, não podia ser. A aparência era a mesma, mas a personalidade era totalmente diferente. 

Sentia minha pele ardendo. Uma dor em meu abdomen foi demais. Gritei com todas as minhas forças, porém meu grito foi abafado por um rolo de um pano que ele prendeu em minha boca. A dor vinha de um corte que ele sem querer havia feito, ao tentar cortar minhas roupas. 

Um tapa forte em meu rosto fez com que eu paralizasse, chocada. Nunca tinha levado um tapa na cara antes.  Ainda em estado de choque, ouvi-o dizer furioso.

-Quem mandou ficar se mexendo tanto. Te furei, mas a culpada é você.

Agora eu tenho culpa por ele ter me cortado e querer me estrupar? Não acredito! Fechei os olhos fortemente, não suportando mais a dor, nem a situação. Só podia ser um terrível pesadelo. Eu precisava acordar. 

Senti uma brisa tocar minha pele me fazendo arrepiar de frio. Estava nua. Não acredito. "Acorda Rachel, pelo amor de Deus acorda mulher!" eu pensava repetidamente torcendo pra que isso me fizesse acordar. 

A ardencia e a dor que senti ao ser invadida a força foi o que me fez apagar. Com um ultimo grito de dor, apaguei. Não senti mais nada, e a escuridão me envolveu.

Só fui acordar no outro dia, numa cama de hospital. 
Lentamente tentei ajustar minha visão aquela imensa claridade. Demorei um pouco mais consegui.

Não sabia onde estava, mas como hospital é tudo igual, não demorei a descobrir. Olhei para os lados e vi Bella e Duda adormecidas no pequeno sofá que possuía naquele quarto. Tentei me erguer, mas a dor em meu abdômen era imensa. Tentei gritar, mas acabei numa crise de tosse o que fez com que acordasse as meninas. Em poucos segundos ambas estavam ao meu lado. Duda apertou o botão de emergência chamando ajuda. Bella tentou me acalmar, fazendo com que eu bebesse água e não tentasse me mexer. 

Bebi agua com dificuldade, mas foi bom sentir o liquido gelado descer pela minha garganta. Sorri agradecida, e olhei pra baixo. A procura de algo errado pra que eu sentisse tanta dor. Vi uma pequena mancha de sangue. Isso não era bom, certo?

Bella ergueu meu lençol assustada também e viu que o curativo em minha barriga estava repleto de sangue.

-Pelos deuses, seus pontos abriram. Duda você chamou as enfermeiras.

-Chamei, elas já devem estar chegando. Vou chamar o pessoal e avisar que Rachel acordou. 

-Ok.

Gemendo de dor, fechei os olhos. Senti uma lagrima escapar meus olhos mesmo estes estando fechados. Uma mão delicada enxugou minha face e acariciando-me lentamente, sussurrou.

-Calma, vai ficar tudo bem. Estou aqui. Vai ficar tudo bem.

A voz de Bella transmitia uma preocupação tão grande que eu queria fazer de tudo para consolá-la, dizer que estava tudo bem, mas não tinha como fazer isso. Pois eu sabia que nada estava bem.

Não demorou e os médicos vieram expulsando Bella de perto de mim.

Me sentindo desprotegida de novo, chorei o que não havia chorado ainda. Queria ir atrás dela, ficar com minha amiga. Mas não me deixavam...

Vendo meu estado o médico me sedou e eu apaguei novamente. 

Era um pesadelo tudo aquilo, certo? Eu iria acordar em minha cama, quentinha, certo? Era tudo o que eu mais desejava. Estar em minha casa e ver que nada disso aconteceu.

Infelizmente aconteceu... Acordei e vi as meninas ainda ali. Também vi Rodrigo e Sara, acompanhada de meus pais. Comecei a chorar ao lembrar-me de tudo o que havia de fato acontecido. Contei tudo pra eles, eles ficaram chocados e furiosos com o que João fizera. Falaram para eu ir na policia, mas eu queria esquecer. Não queria me lembrar do que passei. Acabei apenas fazendo uma intimidação para que ele não se aproximasse mais de mim. Pelos anos que o amei não consegui mandar prendê-lo. Mesmo assim, ele foi preso por não se distanciar quando sai do hospital. Porém sendo filho de advogado corrupto, não demorou nem dois dias ele já havia saido. 

E fazia mais de duas semanas que eu não o via. Porém infelizmente, meu sossego acabou ao encontrá-lo, na festa.

-Acabei me deixando levar pela raiva e parti pra cima dele. - comentei envergonhada.

-Jura? - Bella pergunta surpresa e... animada?

Olho-a nos olhos, confusa, e balanço a cabeça positivamente.

-E ai? 

É ela estava animada e curiosa pra saber o que tinha acontecido.

-O João ficou caído no chão, pois Bia veio me ajudar a chutar ele. No entanto veio a segurança pra cima de nós e João inventou uma mentira dizendo que agente era ex dele e que estávamos com ciúmes e furiosas com o término. O idiota do segurança acreditou nele e não em nós e veio pra cima. Como Bia estava pra lá de alta ela virou pra ele e falou: Vem comigo eu te pago uma bebida e agente esquece tudo. O cara ficou possesso. Pegou Bia e a suspendeu da balada, esquecendo-se de mim. Depois fomos falar pra ele manerar e tals, mas não adiantou. O cara é gatinho, mas é um completo idiota. 

-Meo, não credito. Amei a parte que o João apanhou e acredito que essa foi a graça de tudo né?

-Também... tava doida pra dar um trato naquele desmiolado. Mas a parte engraçada foi ver a Bia sair correndo do segurança e o grandalhão correr atrás dela. Pegá-la no colo e levá-la pra fora no ombro como se ela fosse um saco de arroz.

Risos correm soltos ao imaginarmos a cena. Realmente muito comica. 

Eu paro e fico quieta por um instante fazendo com que Bella se preocupe. Ela é toda preocupada comigo desde o incidente. Ainda não quero falar sobre isso, não procuro falar pois sei que não me fará bem. Tenho medo de abrir uma ferida que ainda me perturba tanto. E o pior disso tudo é que Bella se sente culpada pelo que me aconteceu. Ela não chegou a me dizer, mas dá pra perceber desde o dia que acordei no hospital que ela se culpa pelo que me aconteceu. Não sei o que falar para que ela não se sinta assim. Já tentei dizer pra ela desencanar que eu estava bem, mas de nada adiantou. Deixei quieto, mas não posso fazer isso. Tenho que fazê-la entender logo... Melhor eu analisar primeiro e ver o jeito certo pra falar.

Enquanto eu estava perdida em meus pensamentos, Bella já estava perto de mim, me chamando preocupada.

-Rachel... Rachel... Oi... Rachel...

-Ahn...? - exclamo perdida. Olho pra ela e pergunto - Oi?

-Oi tudo bem com você tia? 

Faço beicinho, pois odeio que me chamem de tia e ela sabe. Viro o rosto e finjo estar emburrada. Na verdade estou, mas só um pouquinho.

Ela não resiste e me abraça forte, depois começa a fazer cócegas para que eu não tenha forças para fugir.

Rio muito e peço arrego ela me liberta com um risinho vitorioso na face. Fuzilo-a com o olhar e ela apenas me mostra a língua numa atitude sapeca de quem não tá nem aí se a outra pessoa está brava ou não. Cruzo meus braços e exclamo.

-Meo você sabe que odeio cócegas.

-Sei, mas também sei que te ajuda a relaxar.

Fico quieta. O que posso dizer? É verdade.

-Como você está? - ela pergunta quebrando o silencio que havia se instalado.

Reviro os olhos com a pergunta rotineira. Estava cansada já. Não quero falar sobre isso, e ela sabe disso.
Suspiro profundamente encaro-a entediada e digo.

-Não quero falar sobre isso... Estou bem, apenas enjoada...

Bella suspira, não sabendo como fazer com que eu me abra com ela. Ela não desiste e sei que não o fará tão cedo. Olhando em meus olhos ela pergunta.

-Enjoada?

-É... não tenho conseguido comer direito. Tudo o que como acaba saindo de meu corpo alguns minutos depois. 

-Vomitando?

-Sim...

-Será que não é virose?

Bufo indignada. 

-Acho que não. Quando não se sabe o que é, dizem que é virose. Isso é o cumulo do cumulo. Por isso me recuso a ir ao hospital.

-Mas Rachel...

-Mas nada, Bella...

-Cara você é muito cabeça dura, meo! Me escuta, você tem que ver o que é....

-Não to afim, eu estou bem!

-Não não está...

-Claro que estou. Eu sei como estou me sentindo.

-Ótimo, você que sabe, mas me prometa uma coisa?

-O quê? - pergunto desconfiada.

-Se você continuar mal, você vai ou me deixa te levar para um médico ok?

Silencio... Não quero concordar. Esse mal estar não parece que vai passar tão rápido.

Droga... Suspiro cansada e a ouço perguntar novamente.

-Combinado, Rachel?

-Combinado... - respondo baixo, suspirando em desistência.

-Ótimo.

"Ela sempre consegue vencer com seus argumentos e pedidos. Não sou párea pra ela... ai ai ai" analiso criticamente a situação. Depois balanço a cabeça sem alternativa. Bella era assim. Uma caixinha de surpresa, mas a amiga que todos gostariam de ter. A que realmente se importa... 

-Então vamos almoçar?

Foi só falar em comida que imaginei um prato delicioso, mas ao contrário do que eu esperava sentir, imaginar isso me fez sair correndo pro banheiro com as mãos na boca. Sentia tudo embrulhado subindo rapidamente. 

"Ah não de novo não!" 

Continuaaa ;*

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Provocações

Com o raiar de mais um dia, que nem vi quando chegou, continuei adormecida em minha cama.

Agarrada ao meu travesseiro, sonhava feito um anjo. Tranquila, calma e sussegada. 

Devido ao calor da noite anterior, havia ligado o ventilador. Dormi feito um neném, e nem queria acordar tão cedo.

Mas como nem tudo acontece como planejamos... não foi diferente comigo.

Os raios do sol atravessaram pela janela e atingiram minha face em cheio. Resmunguei inconscientemente pela subita claridade. Tentei abrir os olhos, mas voltei a fechá-los assim que a luz quase me cegou. 

"Droga!" pensei colocando as mãos sobre a face. Protegendo-me.

Lentamente abri um olho, espiei por entre os dedos e descobri de onde vinha essa claridade. Resmunguei de novo, com preguiça de levantar pra fechar mais a cortina e depois voltar a me deitar. Muito trabalho.

Me virei de bruços e pegando meu travesseiro, apoiei a cabeça no colchão e coloquei o travesseiro sobre minha cabeça, como barreira.
Deu certo! Suspirei, e busquei voltar pro meu sonho, que eu nem lembrava como era, mas sabia que estava amando.

Infelizmente não consegui lembrar, muito menos voltar a dormir, o travesseiro foi util e inutil, pois ajudou com a claridade e me impediu de respirar direito... E como tenho claustrofobia, não deu certo. 

Com o cenho franzido, brava, comecei a me erguer na cama. Soquei o travesseiro dizendo em voz alta.

-Droga! Mil vezes droga! O sonho estava tão bom!

Passando as mãos pelos meus cabelos, deixei-os cair feito cascada pouco a pouco, escondendo minha face. Com a mão direita busquei aliviar a dor que estava sentindo no pescoço. Grande novidade, estava tensa de novo. E o dia mal começou...

Com um logo suspiro, espreguiçei-me. Soltei um novo gemido de dor, sentindo um estalo vindo de minhas costas. Tudo parecia estar indo pro seu devido lugar.

Levantei-me e parti pro banheiro. Me olhei no espelho e quase dei risada do meu cabelo. Apesar de ser muito fino, ele não é liso. É ondulado, com partes lisas. Meio rebelde também, dependendo da hora. Ele hoje, estava comico. Minha franja estava meio erguida e toda bagunçada. Ri de mim mesma, eu realmente estava num estado lamentável. E a cara de sono não ajudava nem um pouco.

Peguei a escova e penteei. Otimo, uma coisa a menos. 

Escovei os dentes e colocando uma proteção no cabelo parti pro banho.

A água morna em minha pele, me relaxou. Respirei fundo sentindo que estava renovada. Tentei me lembrar do que sonhei, mas não conseguia. Era um completo e profundo buraco negro. Ou melhor, tudo estava branco. Nada com nada. Odiava quando queria saber de uma coisa e não conseguia. Mas sabia que era inevitável. 

Sai do banho, me enrolei na toalha e fui pro quarto.

Liguei o som, para animar o ambiente e comecei a cantar junto com a cantora.

"Damn I never thought 
I'd say what I'm about to say
Didn't want anyone
But I met you and the whole thing changed (yeah)
All the things you said had me hopin'
That your game was true. (yeah)
Got to comfortable didn't see the real side of you

And I was sorriest even with your best
This is ain't gonna work no more.
What was I waiting for

I'm so done
And there's nothing you can do
I'm better off without you
There will be no second chances
Taking you back
Cause I'm over that. So done
Nothing you say can change my mind
Don't even waste your time
Truth is you took me for granted
You know I really had it.
I'm so done"

- Jeannie Ortega está na área pessoal. - falei como se estivesse apresentando-a para uma platéia. Ri de minha infantilidade, mas continuei no clima de hip hop. Adoro um bom gingado.

No meu momento de diva, enquanto dançava, ouvi um barulho irritante ecoar pelo quarto.
Corri até minha cama, já sabendo o que devia procurar. 

Acabei tendo que jogar toda a coberta no chão pra conseguir achar o aparelho, mas quando achei sorri ao abrí-lo e ver o nome da minha amiga no visor. Isabella.

-Oieeee. - falei animada

-Bom dia dorminhoca.

-Porque sou dorminhoca, Isa? - perguntei fazendo beicinho. Injusto me chamar de dorminhoca, quando eu nem fiquei dormindo o tanto que eu queria, não é?

-Já viu que horas são? - perguntou rindo, provavelmente sabendo do meu tipico gesto.

Com uma sobrancelha elegantemente arqueada, parei pra pensar se tinha visto as horas. Não. Otimo. Bati em minha testa e fui atrás de um relógio.

-Droga, não acho o relógio. - exclamei em voz alta, frustrada.

-Porque não olha no celular.

-Oras, porque estou falando com você mulher!

-Boba, você pode desencostar o celular e olhar no visor o horário. - comentou Bella rindo de mim. 

Obviamente corei envergonhada, pelo visto ainda estava dormindo por não me tocar que poderia fazer isso. 

Olhei e quase enfartei ao ver o horário.

-São meio dia????? - gritei incrédula.

A risada da Isa ecoou intensa do outro lado da linha. Fiquei mais encabulada ainda, e toda atrapalhada falei incrédula.

-Perdi a hora, meo...

-Jura??? - falou sarcastica

-Ah Isa, dá um tempo vai. Estou acabada por causa de ontem...

-O que aprontou ontem?

-Nada não...

-Sei... conta outra que eu acredito.

-Tá tá... eu fui na balada com as meninas...

-Quem?

-A Dani, Clara, Bia, Clau, Duda, Sara...

-Wow, moh galera que foi hein?

-Verdade! Pena que você não pode ir, foi muito legal... - rio da lembrança viva em minha mente.

-Você sabe que não tinha como... O Diego quis sair comigo, não podia dizer não, afinal nem o vejo tanto como antes. E ele tem mania de implicar que eu fico mais com minhas amigas do que com ele, que é meu namorado. Mas enfim... E como foi?

-Primeiro o Diego é um...

-Nem termina isso, mocinha.

-Okay, okay... não está mais aqui quem falou... Mas ele realmente é um pé no...

-RACHEL!!!

-tá tá... to quieta...

-Conta logo como foi...

-Não sei se devia... - comento misteriosa.

-Porque? 

"Ótimo, ficou curiosa!!! Adoroooo... agora vamos seguir com o plano Rachel" pensei comigo mesma, maliciosamente.  

 Continua...

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Aparência = Quase nada ; Interior = revelação de caráter

Uma coisa eu vos digo:

Nem tudo é o que parece... Já perceberam isso?

Não? Pois é... eu já.

Sério, até hoje não consigo acreditar como pude me deixar levar pela impressão que esta mulher me passou. Acredito que fui corajosa ao finalmente ignorar essa imagem que eu tinha dela em minha cabeça e simplesmente tentar me aproximar. Sempre gentil e na minha, cheguei e simplesmente disse.

-Oi...

Imaginei um monte de foras que essa mulher poderia me dar, mas por incrível que pareça eu não poderia estar mais enganada em meu julgamento.

Ela simplesmente sorriu pra mim, toda carinhosa, e disse.

-Olá. Tudo bem?

A minha surpresa não poderia ser maior. Aquela mulher era gentil! Ela em nada se parecia com a imagem mesquinha que visualizei. Demorei um pouco para responder, mas quando enfim encontrei as palavras, o papo fluiu tranqüilamente.

Acabei descobrindo seu nome. Isabella. 

"Aleluia" pensei revirando os olhos ao lembrar da minha lerdeza em tomar atitude e finalmente agir.

Olha, realmente a imagem que uma pessoa mostra não é tudo. O que importa é o que não se esta presente a olho nu. A alma, o coração que é por tudo protegido, escondido. Pouco a pouco ele pode se abrir e uma maravilhosa surpresa você pode obter na presença de um lindo sorriso que aflora nos lábios desconhecidos. Ali você encontra uma amiga.

Um julgamento mal feito, pode sim, ocasionar muitas confusões. E como eu não quero ser julgada por ninguém, resolvi não julgar também.

Contei para Isabella como eu a via como uma patricinha. Sabe como ela reagiu? Ela riu de mim. Tá bom. Eu franzi o cenho e perguntei:

-Porque você tá rindo?

E ela simplesmente sorriu e disse:

-Todo mundo diz isso.

Okay, pelo menos não vou me sentir mal por ser a única. Mas poxa, eu poderia ter agido diferente. Pena que não agi... e fiz o mais fácil, segui o que a maioria faz, olha e pela aparência julga o caráter da pessoa. Quanta imaturidade. Pelo menos aprendi minha lição. 
Não é porque uma mulher se veste muito bem e anda desfilando com suas roupas e objetos de marca, que ela seja uma esnobe. Pode sim haver muito mais surpresas por trás das aparências. E eu sim me surpreendi. 

Por isso hoje a moral que aprendi e digo:
Nunca julgue alguém pelo o que ela aparenta. Fiz isso e quase perdi uma grande amiga.

Por sorte me corrigi. E hoje feliz vos apresento minha amiga: Isabella.


Tudo parte de um começo ;)

Aqui provavelmente irei começar a contar uma historia sobre o dia a dia de Rachel. Uma arquiteta, que ainda não sabe o que quer direito da vida. A cada momento algo aqui será postado e a historia pouco a pouco fará sentido e terá sua continuidade! ^^

Sem pressa a historia vai ser escrita, o que na mente criar as mãos irão aqui digitar, estão prontos?
No proximo post, você verá um inicio da história de Rachel.

Beijo ;*